“Museu Severo Portela”

Museu Severo Portela

Hoje vou escrever um pouco sobre um pequeno museu que se encontra na vila de Almodôvar, de seu nome “Museu Severo Portela”, não da sua totalidade mas de uma pequena parte que retrata um dos ofícios que marcaram esta vila alentejana “o sapateiro”.

O Museu encontra-se instalado num edifício, onde até finais do século XIX, funcionou a antiga “Casa dos Paços do Concelho”, depois foi transformado em edifício prisional, funcionando com tal, até meados do século XX.

Denominada outrora por “Terra de Sapateiros”, Almodôvar assumiu um papel importante no fabrico de calçado artesanal.

O ofício de sapateiro remonta ao final do século XIX, segundo a tradição oral. Este ofício atravessou várias gerações e foi considerado, em tempos, um dos principais meios de subsistência do concelho de Almodôvar, a par do trabalho agrícola. De acordo com alguns testemunhos “não havia casa nenhuma que não tivesse sapateiros, se eram cinco filhos eram cinco sapateiros (…) era raro aquele que fugia à  arte do pai”.

Almodôvar viu nascer mais de duzentos sapateiros, que trabalhavam em casa por conta própria ou para mestres de lojas ou oficinas.

Para o fornecimento dos materiais indispensáveis ao fabrico do calçado, como sejam, peles para a parte de cima do calçado e para as solas, fio de linhol, cardas, pregos, bem como as ferramentas necessárias ao trabalho do sapateiro, existiam dois armazém para o efeito.

O calçado nestes tempos dividia-se em duas categorias, calçado de trabalho e calçado fino, este para os mais abastados que o usavam quando iam a alguma festa ou feira.

Também era comum nestes tempos o sapateiro deslocar-se à casa dos fregueses, nomeadamente às aldeias e montes, permanecendo na casa do freguês o tempo necessário à confecção do calçado para a família.

O calçado confeccionado era vendido nos próprios locais de fabrico, em sapatarias e nas feiras do concelho e dos concelhos vizinhos.

Actividade teve grande relevância até aos anos sessenta do século passado. Com a pressão da industrialização e da emigração em massa com especial incidência para França e Alemanha, muitos foram procurar uma vida melhor para estes países.

No 1º piso do museu onde se encontravam as celas, depois de obras de adaptação, podemos apreciar em miniatura os modelos de calçado de trabalho e calçado fino.

As miniaturas em exposição foram confeccionadas pelo mestre sapateiro Manuel Silvestre que as doou ao museu. São cerca de 65 pares que correspondem aos modelos usados na época.

O poema do Sr. Manuel Silvestre retrata bem esta realidade:

A terra dos sapateiros

Sou Almodôvar Bendita

Foi quem me deu esta coroa

Nela ficara escrita …

Desde a rua do Algarve

Al alto de Santa Rufina

De Santo António a S. Pedro

A minha grande oficina.”

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